Por Járcio Baldi
Todo campeão faz parecer que suas conquistas são fáceis, mas não é bem assim. Nessa temporada, até o momento em oito provas, Marc venceu sete, mas numa mínima falha de concentração passou sobre a linha branca na zebra e caiu perdendo a chance de vencer num de seus circuitos preferidos. Piloto de motovelocidade não é como um jogador de futebol que perde o gol e pode se redimir num outro lance, ou um jogador de tênis que pode superar sua falha na mesma partida.
Esforço, concentração, perseverança e resistência são cruciais numa mentalidade vencedora. Um lapso pode custar não só a vitória, mas o título além da própria segurança. Dentre várias situações no Mundial de Motovelocidade duas ficaram fortemente em minha memória. No ano de 1992, Mick Doohan havia vencido cinco das sete primeiras etapas e terminado em segundo nas outras duas (eram 13 etapas na temporada). Liderava o campeonato com impressionantes 53 pontos de vantagem antes do GP da Holanda, em Assen. O australiano sofreu um acidente na qualificação e quebrou a perna, perdendo os quatro GPs seguintes voltando nos dois últimos sem estar 100% fisicamente. Mesmo assim perdeu o titulo para Wayne Rainey por quatro pontos. Podemos citar também o ano de 2006 onde bastaria a Valentino Rossi chegar à frente de Nick Hayden na última etapa para ser campeão, mas logo na primeira curva o piloto italiano caiu, voltou, mas não impediu o único título do norte americano.
Quando assistimos às vitórias de Marc Marquez na MotoGP, parece algo muito fácil, o que realmente não é. Nessa semana Scott Redding, um antigo adversário que venceu Marc Márquez quando ambos eram jovens promissores na categoria 125cc do Mundial, deu uma entrevista no podcast “Motorsport Republica” relatando a determinação do octacampeão. Alega-se que Márquez era obcecado pelos dados do incrível piloto Casey Stoner e desenvolveu um estilo de pilotagem inspirado nele. Aparentemente Marc, antes de entrar na categoria principal, estudava incessantemente os dados do australiano. “Marc pilota como o Stoner”. “A forma como ele faz curva com a moto, como podemos observar na Curva 3 em Phillip Island por exemplo”. “Tenho quase certeza de que ele estudou isso por meses”, disse Redding.
E o britânico continuou: “Certa vez, assisti a um documentário em que Stoner, ainda na 250cc, simplesmente caía, acelerava e caía (sic)“. “Ele recusou-se a dizer que a moto não funcionava”. “Marc é igual, é por isso que sofreu muitas quedas enormes, pelo desejo de vencer, essa é a mentalidade”, disse Scott Redding ao podcast.
O desejo da Honda era ter Marc e Stoner na mesma equipe, mas o australiano aposentou-se cedo por problemas de saúde, com apenas dois títulos mundiais (um pela Ducati e outro pela Honda). Redding afirmou que não importava ao australiano qual moto pilotar. “Ele parecia não se importar qual moto pilotava”, disse. “A maioria dos pilotos, inclusive eu, acha que pode pilotar qualquer moto”. “Isso não é bem assim”.” Aconteceu comigo na BMW, eu simplesmente achava que conseguiria, mas descobri que não consigo”. E prosseguiu: “Stoner? Ele consegue pilotar qualquer tipo de moto”, finalizou. Aos olhos de muitos especialistas Marc já é indiscutivelmente melhor do que Stoner, e qualquer outro piloto de MotoGP.
Jorge Martin retornará do Catar nesse final de semana, para continuar seu tratamento médico na Espanha. O evento em Jerez acontece às 10h da manhã do sábado com a “Sprint race” e às 9h da manhã do domingo com a prova principal.
Legenda: Se Marquez chegar ao pódio será o espanhol com maior número de pódios superando Lorenzo
Foto/ MotoGP